Ele conquistou a sua armadura,
Ele conquistou a sua espada,
Ele descobriu as suas lutas...
Ele lutou, como se não houvesse amanhã.
Se feriu. Caído, logo levantou-se.
Não parou de lutar.
Protegeu a família, venceu os homens maus...
Tornou-se um amigo bem cativado.
Grande guerreiro!
A Justiça está com ele.
A solidariedade está com ele.
A humildade, também está com ele.
A desculpa, também está com ele.
Seguindo e vencendo todos os seus erros.
Ele conheceu uma mulher.
Se apaixonou por ela,
Tinha tudo o que sempre quis,
Desde a beleza, até grandes valores morais.
Ele a via como um anjo.
Ele com certeza a amou.
Um dia um andarilho o abordou:
- Ó Grande Guerreiro! Por onde andas, traz justiça contigo, honestidade, sorriso no rosto das crianças, glória e honra a tua família, e também, vitória em todas as batalhas além da felicidade de um grande amor! Pergunto-me, se alguma vez, a tristeza, já tomou conta do teu coração. Se alguma vez, a maldade, o ego da humanidade, já, alguma vez, se apossou desse Guerreiro. Fico pensando, o que poderia vir a acontecer, com toda essa felicidade que sentes agora, será mesmo que és forte o bastante?
O Guerreiro não lhe respondeu nenhuma de suas indagações.
Porém, foi se questionando, no caminho de casa, sobre as palavras do andarilho.
A derrota nunca o pegou assombrosamente, alguns tropeços,
Mas na verdade, nunca havia caído. Estava sempre com a espada na mão.
Protegendo tudo a sua volta, mesmo até que suas mãos sangrassem, furassem,
A espada estava erguida e afiada sob os seus punhos.
Começou a se perguntar, porque, ainda tanto lutava.
Porque ainda havia tanta maldade, tanta injustiça.
Pois as batalhas vinham sempre sob as mesmas desgraças.
Tantas coisas se repetindo a todo tempo.
As lutas estavam ficando intensas demais,
E mesmo que o Guerreiro desse conta destas,
Estava passando pouco tempo com a sua amada.
A certo ponto, a situação ficaria insustentável.
Nesta hora, o andarilho o encontrou novamente num campo de batalha,
Com a vitória nas mãos, e o corpo aquecido, nada lhe fazia companhia além de sua espada, que estava sorrindo com a vitória.
Então ele novamente o indagou:
- Ó Grande Guerreiro! Aqui estás tu, neste campo de batalha, novamente com a vitória nas mãos. As batalhas têm estado intensas não? Muitas batalhas em pouco tempo. Pobrezinho, será que está descansando? Todos confiam essas batalhas sangrentas a você, acreditando em sua força. Porém, nenhum deles já devem ter visto, o estado físico e mental deplorável, que você fica logo após a ultima troca de espada a cada combate. Será que não se importam? Será que não vêem que você tem lutado como nunca para proteger a todos eles? Para proteger o sono de todos. A felicidade de todos. O livre arbítrio de todos. Enquanto tu lutas, os que te adoram, estão com suas famílias, com suas mulheres, com suas crianças. Todos se divertindo, e me pergunto agora, que os tempos de luta estão insustentáveis, será que ainda poderá ter o mesmo que eles? Será que sua amada ainda te terá? Ou melhor, será que tu, ainda terás a tua amada contigo?
Chegará um dia... Em que terá que decidir, terá que escolher.
O Guerreiro novamente, não respondeu nenhuma das indagações do andarilho.
Mas enquanto voltava para casa, caminhou se questionando sobre tudo que havia ouvido do misterioso andarilho.
Um tempo passou. As batalhas se tornaram insustentáveis.
Ele não tinha mais tempo para descansar.
Suas feridas não se curavam.
As feridas de uma batalha abriam em outra batalha.
Assim como também surgiam outras feridas de outras batalhas.
O Guerreiro sentia que poderia continuar balançando sua espada para todo sempre.
Já que a empunhava por uma nobre razão.
Porém, o Guerreiro, não mais sorria. Não mais dormia. Não mais descansava. Não mais, expressava o seu amor pela amada. Tudo estava com ele, todos os seus nobres pensamentos cheios de boa conduta. Ele não tinha com quem dividir tudo isso, mesmo que quisesse, não havia tempo. A sua espada, estava mais perto dele do qualquer outra coisa no mundo.
Apesar de se sentir realizado quanto a um senso de responsabilidade, algo dentro dele pulsava com a vontade de também querer viver uma vida normal.
Não se arrependia, mas, embora gostasse de fazer o que fazia, algo o cutucava por dentro.
Então, o Guerreiro lembrou das palavras do andarilho.
Ele realmente teria que escolher, teria que fazer uma escolha agora.
Vendo todos felizes com suas famílias, com suas vidas, e nenhum deles ajudando-o nas batalhas. Eles o viam lutando, e ele, os via se divertindo. A situação era essa.
Então, ele teria que escolher, entre as batalhas, e a sua amada.
Decidiu ser um pouco, só dessa vez, um pouco egoísta.
Mesmo sabendo que só ele lutava daquela forma vitoriosa.
Mesmo sabendo, que não havia ninguém que fizesse o que ele fazia.
O Guerreiro, exausto, e ferido, com sede de paz, escolheu deixar os campos de batalha, e estar com sua amada.
As batalhas continuaram, o Guerreiro ainda lutava, quando tinha tempo.
A prioridade agora, era apenas a sua amada, apenas o seu amor.
Foi chamado de covarde. Foi caçado pelas pessoas que ajudou. Foi criticado. Foi chamado de fraco, injusto, egoísta.
O Guerreiro não se arrependeu. Ele agora tinha todo o tempo com sua amada, e ela com ele. Ele estava feliz, e para ele, era isso o que importava.
Tinha a consciência de que os outros estavam sendo injustos com ele, porém, não revidou nenhum insulto, e nem afrontou ninguém. Ele só queria amar.
Ele só queria se dar ao direito de poder amar.
Porém, antes mesmo que pudesse curtir toda felicidade e o prazer do amor, sua amada, o abandonou por conta própria.
O Guerreiro sabia que havia algum motivo, mas não se conformou.
Ele havia perdido toda a glória, toda a honra que havia conquistado com tanto esforço nos campos de batalha. Havia largado tudo isso, somente por ela.
Em meio a tantos porquês, só uma duvida o incomodava do fundo do coração:
Quando ela se foi, se foi porque não o amava mais? Ou enquanto estava, na verdade, nunca o amou? Ela era feliz com ele?
Nesta hora, o andarilho apareceu rapidamente, e apenas falou:
- Onde está a sua força agora? Largou tudo por ela, e agora você não tem mais ninguém, não tem o amor de mais ninguém. Todos os seus companheiros, e a sua amada, todos foram embora. E balançar a sua espada, não resolverá o seu problema agora. Todos eles foram egoístas com você, nenhum deles compreendeu a sua dor, a sua solidão, a sua vontade de viver. E você lutou, para que todos eles pudessem viver, sem nenhum desses sentimentos, sem passar por nenhuma das dificuldades pela qual passou. Porque eles são mais fracos que você, eles nunca conseguiriam suportar o campo de batalha como você conseguiu. Mas... Mesmo sendo fracos... Antes, e agora, eles são felizes. O que eles fizeram para serem felizes? E você, é feliz? Quantas coisas você fez, e porque, justo você, não se sente feliz agora? É isso, eles são mais fracos que você. Você tem o poder de julgar o destino deles com o seu livre arbítrio se quiser. Você sofre como uma gota de água caindo e evaporando em cima de uma panela de aço fervendo. E eles, o que fazem por você agora? Porque eles não o protegem, como você os protegia? Todos que tinham algo por você, agora ao menos agüentam te ver. Porque você não balança a sua espada neles? É! Outras pessoas vão gostar de você se fizer isso! Assim como eles gostaram de você.
...
O andarilho desapareceu, e nunca mais voltou, ou precisou voltar.
O Guerreiro, agora não se passa de um mero Andarilho.
Sim, um Andarilho. Coberto por ódio, solidão, inveja, e um forte desejo de se vingar do destino e de todos aqueles que não fizeram nada por ele, e os que só fizeram maldades para ele. Finalmente, a humanidade o pegou. Do dia pra noite, perdeu tudo que havia conquistado. Tudo o que amava.
Totalmente sozinho, no frio do inverno, sem um lar, sem um lugar para voltar, sem uma pessoa para voltar, a única coisa que o mantém aquecido são os sentimentos rancorosos que agora o pertencem.
Mesmo que no fundo de sua pessoa, se questione sobre tudo o que já sentiu, por tudo o que já lutou, agora sua espada balança justamente pelo contrário:
- Pela raiva, pela vingança, pelo fogo, pela guerra.
O Andarilho não pensa em nada enquanto balança sua espada. Isso o faz não ter lembranças dolorosas...
Lutar dessa nova forma, já se tornou um vicio. Esta foi a única maneira que conseguiu de se proteger da dor, da tristeza.
Em um lugar distante, o Andarilho caminha procurando algo para sua espada cortar. Nessa hora eis que aparece um guerreiro e lhe diz:
- Quem é você? Qual o seu propósito? Qual o teu sonho? Porque balanças a tua espada, para quem a balança? A sua espada chora. Eu sou um grande guerreiro, e com minha experiência vejo que sua espada chora agonizantemente. Você não é melhor que um fantasma. Sempre vagando por aí... Se lamentando... Machucando e odiando. Não consegue mais viver de outra maneira. Muitas pessoas tentaram se aproximar de você, mas você não as permite. Se diz ser o único que pode se salvar, se tirar dessa escuridão. Você se tornou uma negação. Eu vou viver como um guerreiro até o fim dos meus dias, não me juntarei a alguém como você, mesmo que meu destino esteja nas tuas mãos.
O Andarilho revidou firme, e com um sorriso cheio de ódio para o guerreiro:
- São todos iguais. Todos farão a mesma coisa. Irão te amar, e depois te abandonar.
À medida que disse isso, o guerreiro foi desaparecendo. E a espada do andarilho foi chorando cada vez mais alto, a medida que o guerreiro ia sumindo da visão do andarilho sendo envolto por uma escuridão.
Nesta hora, entre a noite e o dia, dois pássaros voam em direção ao céu, entoando uma melodia um para o outro:
(Onipresença)
Eu poderia te contar como me sinto.
Eu poderia te ajudar, eu poderia te deixar me ajudar.
O que está acontecendo?
Ele deve ser forte agora, ele deve ser forte agora. Ele caminha sem saber quem é, sem saber para onde ir.
Ele não sabe a que, e a quem pertence.
Ele foi rejeitado, e não sabe mais como ter o que tinha.
Talvez não queira mais ter o que tinha.
Ele está perdendo sua fé por completo.
Ele está se perdendo, e não sabe mais,
Se realmente sabe o que fazer
E não sabe mais, se realmente não sabe o que fazer.
Ainda assim ele quer voltar para casa agora, ele quer voltar para casa.
Mas ele está quebrado, e não sabe se é por dentro ou por fora.
Ele não sabe quem está dentro quem está fora.
Não tem um lugar pra ir, ele está perdido por dentro ou por fora.
Há um velho que habita num distante lugar que apenas observa o horizonte
Há um bebê que está a chorar, apenas ansiando o calor de sua mãe
A punição de alguém e o crime de um outro qualquer.
Vão nascendo e se compensando...?
Não existe um futuro sem salvação?
E agora o presente silenciosamente oferece ao passado,
Apenas belas histórias,
Apenas belas palavras, banhadas de mentiras...
No meio da chuva que começa a cair, algo começa a flutuar e desaparecer.
O que será? O que será que acontecerá com esses “dois”?
Ainda assim ele quer voltar para casa agora, ele quer voltar para casa.
Mas ele está quebrado, e não sabe se é por dentro ou por fora.
Ele não sabe quem está dentro quem está fora.
Não tem um lugar pra ir, ele está perdido por dentro ou por fora.
...
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